Como a idade biológica redefine a seleção de terapias oncológicas em idosos?
- Propósito Cursos e Pós-graduação
- 17 de jul.
- 4 min de leitura

A transição do paradigma da idade cronológica para a idade biológica tem transformado as decisões terapêuticas em oncologia geriátrica. A expectativa de vida individual, estimada por ferramentas como o ePrognosis, oferece parâmetros mais realistas sobre a tolerância e a viabilidade de cada proposta terapêutica. Comorbidades, grau de funcionalidade e reserva fisiológica são hoje critérios mais relevantes do que o número de aniversários celebrados. O farmacêutico clínico, ao integrar essa lógica à análise terapêutica, participa ativamente da decisão sobre manter, adaptar ou mesmo descontinuar regimes de quimioterapia. Além disso, o uso de instrumentos como o Índice de Comorbidade de Charlson (ICC) permite estimar riscos com base em dados robustos de sobrevida. Uma pontuação ≥3 no ICC, por exemplo, está associada a uma chance significativamente maior de hospitalização e abandono de tratamento, o que reforça o papel do farmacêutico como mediador entre eficácia terapêutica e segurança. Vamos entender mais sobre isso? Por que o farmacêutico deve entender o perfil de fragilidade na prescrição oncológica?
A fragilidade, definida como um estado de vulnerabilidade aumentada resultante da perda cumulativa de reservas fisiológicas, está fortemente associada a piores desfechos em pacientes oncológicos idosos.
O fenótipo de FRIED, que considera perda de peso, exaustão, baixa força muscular, lentidão e redução da atividade física, é uma ferramenta validada que pode ser utilizada na prática clínica.
Escalas simplificadas como FRAIL ou SOF também auxiliam no rastreio inicial.
Para o farmacêutico, identificar um paciente como frágil impacta diretamente em suas atribuições clínicas: desde o ajuste inicial de doses até a escolha da via de administração, o tempo de infusão e a recomendação de medidas de suporte. Pacientes frágeis tendem a apresentar maior toxicidade hematológica, maior risco de quedas, infecções recorrentes e intolerância aos esquemas padrões. Portanto, esse perfil exige uma abordagem mais proativa por parte do farmacêutico clínico, com foco em prevenção de eventos adversos, intervenção precoce em sinais de toxicidade e diálogo constante com a equipe para readequação de condutas. A fragilidade não é um impeditivo absoluto, mas sim um sinal de que a terapêutica deve ser conduzida com extrema atenção.
Confira abaixo as informações relevantes que Simara Artico, professora da pós-graduação de Farmácia Oncológica, tem a dizer sobre isso!
Como a polifarmácia influencia o risco-benefício da terapia antineoplásica em idosos?
Pacientes idosos frequentemente apresentam múltiplas doenças crônicas que requerem o uso concomitante de diversos medicamentos, o que aumenta exponencialmente o risco de interações medicamentosas e efeitos adversos. A polifarmácia, muitas vezes definida como o uso de cinco ou mais medicamentos contínuos, pode comprometer significativamente a segurança da terapia oncológica. Estudos mostram que pacientes com escore de Charlson ≥3 possuem até 10 vezes mais chances de hospitalização por toxicidade relacionada ao tratamento quimioterápico. O farmacêutico clínico assume papel de liderança ao realizar a reconciliação medicamentosa, mapear riscos de duplicidade, sugerir ajustes e a desprescrição de medicamentos sem benefício clínico comprovado. Essa atuação é essencial, especialmente em tratamentos com antineoplásicos orais, em que o risco de automedicação e desconhecimento de interações é maior. Além disso, a polifarmácia pode mascarar sinais clínicos importantes ou interferir em exames laboratoriais, comprometendo o acompanhamento terapêutico.
Quais ferramentas clínicas auxiliam o farmacêutico na estratificação desse risco?
A tomada de decisão terapêutica em oncogeriatria demanda uma estimativa precisa dos riscos de toxicidade associados ao tratamento. Para isso, escalas como o CARG (Cancer and Aging Research Group) e o CRASH Score têm se consolidado como ferramentas essenciais. Elas integram variáveis clínicas, laboratoriais e funcionais para prever o risco de toxicidade grau 3 ou superior em idosos iniciando nova quimioterapia. A utilização dessas ferramentas pelo farmacêutico permite antecipar complicações e adaptar os regimes antes mesmo da primeira dose, com foco na segurança e adesão do paciente.
Por exemplo, pacientes classificados como alto risco pelo CRASH devem iniciar esquemas menos intensivos, com monitoramento mais próximo e suporte intensificado.
Essa abordagem baseada em evidências transforma o acompanhamento farmacoterapêutico em um instrumento de estratificação de risco, promovendo um cuidado mais personalizado e seguro.
Como a avaliação funcional interfere nas decisões de dose e via de administração?
Avaliar a funcionalidade global do paciente idoso é essencial para determinar sua capacidade de tolerar diferentes esquemas de tratamento. Testes como o da preensão palmar (hand grip strength), velocidade de marcha e atividades de vida diária (AVDs) são indicadores confiáveis da reserva funcional. Um paciente com preensão palmar abaixo de 16 kgf (mulheres) ou 26 kgf (homens) é considerado frágil, e isso pode contraindicar terapias de alta intensidade ou com alto risco de toxicidade neuromuscular. O farmacêutico, ao considerar esses dados, pode propor ajustes no esquema terapêutico, como a substituição de infusões contínuas por bolus intermitentes. Além disso, a via oral pode ser preferida em pacientes com boa adesão e sem alterações na deglutição ou motilidade intestinal. Com isso, a análise funcional deixa de ser um dado periférico e passa a integrar de forma estratégica a racionalidade terapêutica, colocando o farmacêutico na linha de frente da personalização do tratamento.
Por que a farmacovigilância ativa deve ser intensificada em pacientes oncológicos idosos?
O envelhecimento está associado a alterações fisiológicas que afetam a farmacocinética nos tratamentos. Essas alterações tornam os idosos mais suscetíveis a reações adversas, muitas vezes atípicas, como delírios, confusão mental, anorexia ou quedas. Diante desse cenário, a farmacovigilância com busca sistematizada e proativa por sinais de toxicidade deve ser incorporada aos processos da equipe multidisciplinar. A coleta de dados laboratoriais, o uso de escalas de avaliação funcional e entrevistas clínicas em momentos estratégicos do tratamento ajudam a antecipar eventos adversos e a intervir precocemente. Essa atuação não apenas aumenta a segurança do tratamento, como também melhora a adesão, reduz hospitalizações evitáveis e favorece a continuidade terapêutica.
A inclusão da Oncogeriatria muda o papel do farmacêutico na equipe multidisciplinar?
A ascensão da Oncogeriatria como subespecialidade transforma não apenas os protocolos clínicos, mas também o posicionamento do farmacêutico na equipe multiprofissional. O farmacêutico passa a ser um elo estratégico na construção de esquemas terapêuticos seguros, baseados em prognóstico, funcionalidade e risco-benefício individual. Ele participa de comitês de decisão terapêutica, propõe intervenções com base em ferramentas gerontológicas validadas, promove desfechos clínicos mais favoráveis e, acima de tudo, atua com foco na preservação da autonomia do paciente idoso. A Oncogeriatria, portanto, não apenas muda o paciente que tratamos, mas redefine o farmacêutico que precisamos ser.
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