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MATTERHORN 2025: O que os novos dados revelam sobre durvalumabe no câncer gástrico e o que muda para o farmacêutico oncológico?

Reprodução: Shutterstock
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O câncer gástrico continua sendo um dos grandes desafios globais em oncologia, com alta letalidade e baixa taxa de sobrevida em estágios avançados. Segundo dados do GLOBOCAN 2024, ele figura entre os cinco tumores mais incidentes e letais no mundo, sendo mais prevalente em países da Ásia, América Latina e Europa Oriental. No Brasil, sua incidência tem se mantido estável, mas ainda representa um grande ônus para o sistema de saúde. Dentre os subtipos histológicos, o adenocarcinoma gástrico, especialmente o localizado na junção gastroesofágica (GEJ), é o mais comum e frequentemente diagnosticado em estágios localmente avançados. A heterogeneidade molecular e a limitada eficácia das terapias disponíveis até então tornam essencial a introdução de novas estratégias terapêuticas. Nesse cenário, o papel do farmacêutico oncológico na avaliação e incorporação de novas evidências se torna cada vez mais relevante.


Confira abaixo as informações relevantes que a farmacêutica Simara Ártico, professora da pós-graduação de Farmácia Oncológica, tem a dizer sobre as características e classificações do câncer gástrico!



Adenocarcinoma da junção gastroesofágica (GEJ): características biológicas e clínicas


O subtipo de adenocarcinoma da junção gastroesofágica (GEJ) apresenta características biológicas e clínicas peculiares que o distinguem dos tumores gástricos distais. Frequentemente associado à superexpressão de PD-L1 e alterações moleculares específicas, esse subtipo tem sido o foco de ensaios clínicos que buscam integrar imunoterapia à quimioterapia padrão. A distinção anatômica e patológica exige protocolos diferenciados e atenção farmacoterapêutica rigorosa.


O estudo MATTERHORN investiga precisamente esse grupo de pacientes, ampliando as possibilidades terapêuticas com a adição do durvalumabe ao regime FLOT (fluorouracil, folinato de cálcio, oxaliplatina e docetaxel) em contexto perioperatório.

Qual é o impacto da combinação durvalumabe + FLOT na linha de cuidado perioperatória?


Os dados adicionais do estudo MATTERHORN apresentados em 2025 consolidam a combinação durvalumabe + FLOT como uma das intervenções mais promissoras no cenário perioperatório do câncer gástrico localmente avançado. Com base em uma população elegível que apresenta tumor ressecável com expressão de PD-L1 ≥ 1%, o estudo demonstrou melhora significativa na taxa de resposta patológica completa e no tempo livre de progressão. A introdução da imunoterapia nesse contexto, até então restrita a estágios metastáticos ou inoperáveis, representa um salto terapêutico relevante. Para o farmacêutico, isso implica uma reavaliação dos protocolos institucionais, treinamento da equipe multiprofissional e acompanhamento rigoroso dos eventos adversos imunomediados, especialmente no período pós-operatório.



Quais são os desafios para a incorporação do regime durvalumabe + FLOT no sistema de saúde?


Apesar dos resultados clínicos animadores, a combinação de durvalumabe + FLOT ainda encontra barreiras significativas para incorporação ampla. O custo elevado da imunoterapia e a necessidade de estruturação institucional para suporte multidisciplinar dificultam sua adoção sistemática. O farmacêutico oncológico desempenha papel estratégico ao elaborar pareceres técnico-científicos, participar de comitês de incorporação tecnológica e discutir custo-efetividade com base em dados locais. A adoção de modelos farmacoeconômicos e análise de impacto orçamentário são ferramentas fundamentais que esse profissional deve dominar para contribuir com decisões sustentáveis.


Qual o papel da evidência científica adicional no contexto do MATTERHORN?


As análises adicionais do MATTERHORN 2025 trouxeram dados robustos de subgrupos, incluindo análises de biomarcadores como CPS (Combined Positive Score) e expressão de PD-L1, além de desfechos relacionados à qualidade de vida e resposta patológica completa. Outro dado relevante é a redução na taxa de progressão linfonodal nos pacientes que receberam durvalumabe, impactando diretamente a decisão cirúrgica. Essas evidências, longe de serem apenas dados estatísticos, tornam-se ferramentas de aplicação clínica imediata no cotidiano clínico.


Quais eventos adversos exigem atenção especial no uso do durvalumabe nesse contexto?


Dentre os eventos adversos mais comuns observados no MATTERHORN estão fadiga, náuseas, neuropatia periférica e toxicidades imunomediadas, como hepatite e endocrinopatias. A combinação com agentes citotóxicos do FLOT potencializa o risco de mielotoxicidade, exigindo protocolos claros de monitoramento laboratorial e uso racional de fatores de crescimento. O farmacêutico deve liderar a análise de risco-benefício, antecipar intervenções para redução de toxicidades e garantir adesão aos calendários de administração, respeitando os intervalos críticos entre ciclos e cirurgias. A farmacovigilância ativa e a capacitação da equipe assistencial são essenciais para mitigar riscos e aumentar a efetividade terapêutica. O que esperar do futuro da imunoterapia no câncer gástrico após o MATTERHORN?


A tendência é que a imunoterapia avance para fases cada vez mais precoces do tratamento do câncer gástrico, inclusive em contextos adjuvantes e neoadjuvantes, desde que acompanhada por biomarcadores robustos e protocolos clínicos bem definidos. O estudo MATTERHORN representa um divisor de águas, mas levanta também a necessidade de programas de acesso, definições claras de elegibilidade e atualização contínua das equipes assistenciais. Para o farmacêutico, isso demanda uma postura cada vez mais analítica, crítica e participativa, acompanhando de perto os dados da literatura, discutindo estudos em comissões locais e atuando como pilar da tomada de decisão baseada em evidências.


Este conteúdo foi desenvolvido com base na literatura científica mais atual e na divulgação oficial dos resultados adicionais do estudo MATTERHORN 2025, sem qualquer tipo de incentivo, financiamento ou parceria com a indústria farmacêutica. O objetivo é fornecer informação técnica qualificada para farmacêuticos oncológicos, promovendo a autonomia profissional e a prática clínica baseada em evidências. As informações aqui expressas refletem a interpretação científica do autor e não substituem diretrizes locais, regulamentações institucionais ou decisões médicas personalizadas.


Referências


Sung H, Ferlay J, Laversanne M, Soerjomataram I, Jemal A, Bray F. Global Cancer Statistics 2024: GLOBOCAN Estimates of Incidence and Mortality Worldwide for 36 Cancers in 185 Countries. CA Cancer J Clin. 2024;74(2):121-156. doi:10.3322/caac.21765


Shah MA, Bang YJ, Tabernero J, Ajani JA, Yanez PE, Sugimoto N, et al. Durvalumab plus FLOT as perioperative treatment for resectable gastric and GEJ adenocarcinoma: primary analysis of the phase III MATTERHORN study. Presented at: ASCO Annual Meeting; 2025 Jun 1–5; Chicago, IL. Abstract LBA4501.


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