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Onde se escondem os desperdícios na Farmácia Oncológica?

O que caracteriza um desperdício na farmácia oncológica e por que ele é mais crítico neste cenário?


Na Oncologia, qualquer recurso desperdiçado pode representar não apenas um impacto econômico expressivo, mas também consequências clínicas para o paciente. A complexidade dos tratamentos, a fragilidade do estado clínico dos pacientes e o alto custo dos medicamentos exigem máxima precisão nos processos. No contexto da metodologia Lean, desperdício é tudo aquilo que não agrega valor ao paciente. Isso pode assumir formas como retrabalho, excesso de manipulações, perdas por estabilidade vencida e até atrasos terapêuticos. A identificação desses pontos é essencial para aprimorar a performance assistencial e reduzir custos sem comprometer a segurança. O papel do farmacêutico nesse processo é central: ele é o elo entre o planejamento terapêutico, a validação clínica e a operação técnica de medicamentos de alto custo e risco.

Como os fluxos desnecessários aumentam o risco de perdas clínicas e financeiras?


O desperdício por movimentação excessiva, um dos pilares da análise Lean, é especialmente sensível em ambientes que manipulam citotóxicos. Na farmácia oncológica, fluxos mal desenhados entre a validação da prescrição, manipulação, conferência e liberação da dose aumentam o risco de erros, contaminações cruzadas e perda de estabilidade do produto. Além disso, o transporte entre setores sem uma logística integrada pode resultar em infusões atrasadas, devoluções ou descartes. Otimizar o layout físico, integrar sistemas de prescrição eletrônica com rastreabilidade e implementar validações farmacotécnicas assertivas são medidas que reduzem esse tipo de perda. Quando bem aplicadas, essas ações impactam diretamente na segurança do paciente e na sustentabilidade do serviço.


Confira abaixo as informações relevantes que Elizângela Eugênio, professora da pós-graduação de Farmácia Oncológica, tem a dizer sobre isso!




A superprodução existe na Oncologia? E quais suas consequências?


Apesar de parecer contraditório em um ambiente tão sensível ao custo, a superprodução é um desperdício silencioso em muitas farmácias oncológicas. Isso ocorre quando medicamentos são preparados antes da checagem da presença do paciente, sem confirmação da liberação médica ou por protocolos que não consideram a taxa de absenteísmo. Esse tipo de prática pode gerar perda direta de medicamentos de alto custo, além de comprometer o tempo dos profissionais envolvidos e ocupar cabine limpa desnecessariamente. Uma solução estratégica é o uso de práticas como o just-in-time adaptado à realidade clínica, com processos de agendamento, confirmação ativa e revalidação farmacêutica próxima à manipulação. Esse controle refinado é uma das atribuições fundamentais do farmacêutico clínico nesse cenário.



O que o tempo de espera revela sobre ineficiências na assistência?


Tempo de espera não é apenas incômodo para o paciente, mas sim um indicador poderoso de gargalos operacionais. A metodologia Lean classifica a espera como um desperdício crítico. Na farmácia oncológica, ela pode decorrer de diversas causas: prescrição incompleta, falta de validação clínica, ausência de materiais, falhas no preparo técnico ou problemas de comunicação entre equipes. Isso também se aplica aos tratamentos orais, como quando há demora na autorização de medicamentos do componente especializado, ausência de reconciliação medicamentosa ou falhas na dispensação programada de ciclos subsequentes. A atuação do farmacêutico como gestor do fluxo assistencial é indispensável. Com o uso de indicadores de tempo entre prescrição e liberação, seja para infusão ou para o tratamento via oral, é possível traçar estratégias de reorganização do processo, garantindo eficiência e promovendo a humanização no cuidado.



Quais os impactos do excesso de estoque na farmácia oncológica?


Manter estoque acima do necessário é um erro clássico quando se busca segurança, mas que pode se tornar fonte de desperdício. Na Oncologia, isso é ainda mais grave, pois os medicamentos são expressivamente mais caros, muitos exigem armazenamento especial e têm validade curta após abertos ou reconstituídos. O excesso pode levar ao vencimento de produtos, perdas por instabilidade e até uso indevido de medicamentos fora do planejamento terapêutico.

A Farmácia Clínica tem papel fundamental na implantação de sistemas de previsão de demanda e consumo inteligente, baseados em perfil epidemiológico, padrões de prescrição e taxas de comparecimento. Além disso, o farmacêutico deve atuar em conjunto com a farmácia de compras e o setor financeiro para estabelecer níveis de estoque mínimos e seguros, alinhando custo e assistência.


Como o retrabalho impacta a segurança do paciente oncológico?


Erros de prescrição, validação ou manipulação que geram retrabalho colocam em risco tanto a segurança do paciente quanto a integridade do processo. Na perspectiva Lean, o retrabalho é um desperdício grave, pois consome tempo e recursos e pode introduzir novos erros. Na Oncologia, onde a margem de erro é mínima, a prevenção de retrabalho deve ser prioridade. Isso inclui validação farmacêutica estruturada, prescrição eletrônica com protocolos integrados e rotinas padronizadas de conferência dupla. Cada etapa deve ser auditável e orientada por boas práticas de manipulação. A presença de farmacêuticos clínicos junto às equipes multidisciplinares permite resolver dúvidas antes que elas virem problemas, reduzindo reprocessos e aumentando a confiança da equipe no sistema.


O que podemos aprender com o Lean para reduzir desperdícios na Oncologia?


A filosofia Lean propõe uma cultura de melhoria contínua e foco no que agrega valor ao paciente, algo que se alinha perfeitamente com os princípios da oncologia moderna. Aplicar Lean na farmácia oncológica é mais do que cortar custos: é identificar onde há fricção, perda ou desvio daquilo que realmente importa no cuidado. Isso significa olhar criticamente para fluxos, treinar equipes para reconhecer desperdícios, fomentar o engajamento intersetorial e utilizar indicadores para orientar mudanças. O farmacêutico, com sua visão transversal e responsabilidade técnica sobre medicamentos, está em posição estratégica para liderar essa transformação. Ao tornar os processos mais enxutos, seguros e previsíveis, criamos um cuidado mais sustentável, eficaz e centrado no paciente. Referências


Graban M. Lean hospitals: improving quality, patient safety, and employee engagement. 3rd ed. Boca Raton: CRC Press; 2016.


American Society of Health-System Pharmacists (ASHP). ASHP Guidelines on Preventing Medication Errors with Antineoplastic Agents. Am J Health Syst Pharm. 2014;71(7):e9–e35.


National Comprehensive Cancer Network (NCCN). NCCN Framework for Resource Stratification (NCCN Framework™): Cancer-Related Fatigue. Versão 2024.


Silva RR, Castilho V, Gonçalves VLM. Aplicação da filosofia lean healthcare na assistência farmacêutica hospitalar: revisão integrativa. Rev Bras Farm Hosp Serv Saúde. 2017;8(1):21–6.


World Health Organization (WHO). Technical Report: WHO Good Manufacturing Practices for Pharmaceutical Products: Main Principles. Geneva: WHO; 2023.




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