Como a retatrutida atua no organismo - Entenda o papel dos receptores GLP-1, GIP e glucagon no controle do peso e do metabolismo
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- há 5 horas
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A obesidade é uma das condições crônicas mais prevalentes e desafiadoras da prática clínica atual, com impacto direto no risco cardiovascular, na mobilidade e na qualidade de vida. Para o farmacêutico clínico, compreender os avanços terapêuticos em investigação é essencial para orientar pacientes, equipes multiprofissionais e evitar o uso inadequado de medicamentos ainda não aprovados.
Nesse cenário, o estudo TRIUMPH-4 trouxe evidências robustas sobre a retatrutida, um agonista triplo dos receptores GIP, GLP-1 e glucagon, desenvolvido pela Eli Lilly, que vem sendo apontado como uma possível nova geração de tratamento farmacológico para obesidade.
O que é a retatrutida? (agonista triplo GIP/GLP-1/glucagon)
A retatrutida é um medicamento experimental, de administração semanal, que atua simultaneamente em três vias hormonais centrais do metabolismo energético:
GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon-1): redução do apetite, atraso do esvaziamento gástrico e melhora do controle metabólico
GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose): modulação da resposta metabólica e potencial sinergia com GLP-1
Glucagon: aumento do gasto energético e mobilização de reservas lipídicas
Para o farmacêutico, esse mecanismo de ação integrado ajuda a explicar os efeitos expressivos sobre perda de peso, marcadores cardiometabólicos e capacidade funcional observados no estudo.

Figura 1. Mecanismos de ação da retatrutida.
Estudo TRIUMPH-4 (retatrutida): desenho e população avaliada
O TRIUMPH-4 foi um estudo fase 3, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, com duração de 68 semanas, envolvendo adultos com:
Obesidade ou sobrepeso
Osteoartrite de joelho
Ausência de diabetes
Os participantes receberam retatrutida 9 mg, retatrutida 12 mg ou placebo, com titulação gradual da dose. Os desfechos coprimários avaliados foram:
Redução percentual do peso corporal
Redução da dor no joelho (escala WOMAC)
Principais resultados do TRIUMPH-4
🔹 Perda de peso clinicamente relevante
Redução média de até 28,7% do peso corporal (≈ 32,3 kg) com a dose de 12 mg
Cerca de 40% dos pacientes alcançaram ≥ 30% de perda ponderal, um resultado raro em terapias farmacológicas
Para o farmacêutico, esses dados reforçam o potencial impacto futuro no manejo da obesidade grave e de suas complicações.
🔹 Melhora da dor e da função articular
Redução de até 75,8% no escore de dor WOMAC
Melhora significativa da função física
1 em cada 8 pacientes ficou completamente livre de dor ao final do estudo
Esse ponto é especialmente relevante na prática clínica, pois associa perda de peso a ganho funcional real, com possível redução da necessidade de procedimentos como artroplastia de joelho.
Impacto nos marcadores cardiometabólicos
Além do efeito no peso, a retatrutida demonstrou reduções significativas em parâmetros frequentemente monitorados pelo farmacêutico clínico:
Colesterol não-HDL
Triglicerídeos
Proteína C-reativa ultrassensível (hs-CRP)
Redução da pressão arterial sistólica em até 14 mmHg
Esses achados reforçam a interseção entre obesidade, inflamação e risco cardiovascular.
Perfil de segurança: o que o farmacêutico deve observar
Os eventos adversos mais comuns foram semelhantes aos observados com outros agonistas incretínicos:
Náuseas
Diarreia
Constipação
Vômitos
Redução do apetite
A maioria foi de intensidade leve a moderada. As taxas de descontinuação foram maiores nas doses mais elevadas, principalmente em pacientes com IMC basal muito alto — um ponto importante para futura avaliação de aderência e manejo farmacoterapêutico.
⚠️ Atenção farmacêutica: status regulatório e uso correto
Este ponto é crítico para a atuação ética e legal do farmacêutico:
A retatrutida NÃO está aprovada para uso comercial. Trata-se de um medicamento experimental, restrito a estudos clínicos.
Qualquer uso fora de protocolos de pesquisa é inadequado, irregular e potencialmente inseguro. Caso o farmacêutico identifique relatos de uso desse medicamento na prática cotidiana, isso deve ser entendido como uso indevido, sem respaldo regulatório.
Cabe ao farmacêutico:
Orientar pacientes sobre riscos do uso de medicamentos não aprovados
Reforçar a importância de prescrição e acompanhamento médico
Atuar na prevenção da automedicação e do uso off-label não autorizado
O que esperar do futuro?
A Eli Lilly conduz atualmente mais sete estudos fase 3, com resultados previstos para 2026, avaliando a retatrutida em diferentes cenários clínicos, como:
Obesidade
Diabetes tipo 2
Apneia obstrutiva do sono
Desfechos cardiovasculares e renais
Se os resultados forem confirmados, a retatrutida poderá representar uma mudança significativa no arsenal terapêutico da obesidade.
Conclusão: o papel do farmacêutico diante das novas terapias para obesidade
O estudo TRIUMPH-4 posiciona a retatrutida como uma das moléculas mais promissoras em investigação para obesidade. Para o farmacêutico, o momento é de atualização científica, educação do paciente e responsabilidade regulatória, evitando a banalização de terapias ainda em desenvolvimento.
A inovação deve caminhar junto com a ética, a segurança e o uso racional de medicamentos.
Referências: Giblin K, Kaplan LM, Somers VK, Le Roux CW, Hunter DJ, Wu Q, Lalonde A, Ahmad N, Bethel MA. Retatrutide for the treatment of obesity, obstructive sleep apnea and knee osteoarthritis: Rationale and design of the TRIUMPH registrational clinical trials. Diabetes Obes Metab. 2026 Jan;28(1):83-93. doi: 10.1111/dom.70209. Epub 2025 Oct 15. PMID: 41090431; PMCID: PMC12673447.
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