Disponível no SUS: trastuzumabe entansina. Você conhece esse ADC?
- Propósito Cursos e Pós-graduação
- 15 de out.
- 5 min de leitura

Os conjugados anticorpo-fármaco (ADCs, Antibody-Drug Conjugates) são uma das mais sofisticadas inovações da farmacoterapia antineoplásica contemporânea. Eles combinam a especificidade do anticorpo monoclonal com o poder citotóxico de uma molécula ativa (payload), permitindo uma entrega dirigida ao tecido tumoral e reduzindo os efeitos sistêmicos indesejáveis. Na prática, o ADC funciona como um “míssil biológico”: o anticorpo reconhece um antígeno tumoral, conduz o agente citotóxico até as células-alvo e promove uma destruição seletiva. Esse conceito, embora complexo, traduz uma das principais promessas da medicina de precisão: maximizar eficácia e segurança por meio da seletividade molecular. O farmacêutico oncológico, nesse cenário, assume papel estratégico ao compreender as propriedades físico-químicas do ADC, sua estabilidade e os impactos na farmacocinética, uma vez que pequenas alterações no linker ou na razão droga-anticorpo (DAR) podem modificar drasticamente o perfil de segurança e eficácia. A evolução dos ADCs reflete a consolidação da medicina personalizada, e o domínio técnico sobre esses agentes torna-se essencial para a atuação clínica e gerencial dentro dos serviços de oncologia.
Como funciona o mecanismo de ação do trastuzumabe entansina?
O trastuzumabe entansina (T-DM1) é um ADC desenvolvido a partir da conjugação do anticorpo monoclonal trastuzumabe, que reconhece o receptor HER2, com o agente citotóxico DM1, derivado da maitansina, via linker não clivável SMCC (succinimidyl-4-(N-maleimidomethyl) cyclohexane-1-carboxylate). Esse linker garante alta estabilidade no plasma, prevenindo a liberação precoce do DM1 e permitindo que o composto permaneça intacto até atingir as células-alvo. Após se ligar ao receptor HER2 na superfície da célula tumoral, o complexo é internalizado por endocitose e transportado para o lisossomo, onde o anticorpo é degradado e o DM1 é liberado dentro do citoplasma. O DM1, então, inibe a polimerização dos microtúbulos, interrompendo o ciclo celular em fase mitótica e levando à apoptose. Simultaneamente, o trastuzumabe mantém sua ação de bloqueio do domínio extracelular do HER2, impedindo a sinalização proliferativa e recrutando mecanismos imunológicos como a citotoxicidade celular dependente de anticorpos (ADCC).
Em quais indicações o trastuzumabe entansina se destaca?
O T-DM1 é indicado para pacientes com câncer de mama HER2-positivo metastático ou localmente avançado que progrediram após tratamento prévio com trastuzumabe e taxano. Essa indicação foi estabelecida a partir do estudo EMILIA, um ensaio de fase III que demonstrou aumento significativo na sobrevida global e na sobrevida livre de progressão em comparação ao regime capecitabina-lapatinibe. Posteriormente, o estudo KATHERINE consolidou o uso adjuvante do T-DM1 em pacientes com doença residual invasiva após quimioterapia neoadjuvante contendo trastuzumabe, reduzindo em quase 50% o risco de recorrência ou morte. O uso do T-DM1 também vem sendo explorado em contextos de doença precoce e em neoplasias com amplificação do HER2 fora do contexto mamário, como em tumores gástricos.
No mês do Outubro Rosa, o Ministério da Saúde recebe o primeiro lote do Trastuzumabe Entansina, medicamento de última geração incorporado ao SUS para o tratamento do câncer de mama HER2-positivo, uma forma agressiva da doença que estimula o crescimento das células tumorais. A primeira remessa, com 11.978 unidades (6.206 de 100 mg e 5.772 de 160 mg), chegou nesta segunda-feira (13) ao almoxarifado do Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP). Ao todo, serão quatro lotes do medicamento. As próximas entregas estão previstas para dezembro de 2025, março e junho de 2026. Os insumos atenderão 100% da demanda atual pelo medicamento no SUS, beneficiando 1.144 pacientes em 2025.
A portaria SCTIE/MS nº 98, de 9 de setembro de 2022 torna pública a decisão de incorporar, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), o trastuzumabe entansina no tratamento adjuvante do câncer de mama HER2-positivo operado em estádio III com doença residual na peça cirúrgica após tratamento neoadjuvante, conforme o modelo da Assistência Oncológica no SUS.
Confira mais sobre o que a professora Deborah Melo, que integra o time de professores da nossa Pós Graduação de Farmácia em Oncologia, tem a dizer sobre o trastuzumabe vedotina:
Quais parâmetros de segurança exigem vigilância farmacêutica contínua?
A farmacovigilância do T-DM1 requer abordagem sistemática e contínua, dado seu perfil de toxicidade cumulativa. Os eventos adversos mais frequentes incluem fadiga, náusea, trombocitopenia e elevação de enzimas hepáticas, que podem evoluir para hepatotoxicidade grave. O farmacêutico deve correlacionar essas manifestações aos mecanismos farmacológicos do DM1, cuja ação antimicrotubular afeta células normais de alta taxa mitótica, como megacariócitos, explicando a queda plaquetária. Também é fundamental rastrear interações medicamentosas com agentes hepatotóxicos e com inibidores ou indutores do CYP3A4, responsáveis pelo metabolismo do DM1. Protocolos institucionais devem prever estratégias de mitigação de risco, como suspensão temporária, redução de dose e reintrodução gradual, conforme critérios do Common Terminology Criteria for Adverse Events (CTCAE). O registro padronizado de eventos adversos, em sistemas como o VigiMed ou bases internas hospitalares, contribui para aprimorar o conhecimento pós-comercialização e fundamentar ajustes de diretrizes.
Há diferenças de acesso entre os sistemas público e privado?
Embora o T-DM1 tenha sido incorporado tanto ao SUS quanto à saúde suplementar, o acesso prático ao tratamento ainda é desigual. No sistema público, a utilização ocorre mediante protocolo clínico e diretrizes terapêuticas (PCDT) específico, o que assegura a padronização, mas restringe o uso a situações clínicas definidas. No setor privado, apesar da obrigatoriedade de cobertura pela ANS, há variabilidade no tempo de autorização e nas exigências documentais das operadoras. O farmacêutico oncológico atua como elo entre paciente, equipe médica e gestores, auxiliando na análise de elegibilidade, na elaboração de justificativas técnicas e na tramitação de pedidos de autorização. Essa interface entre o conhecimento técnico e a gestão do acesso reflete a expansão do papel do farmacêutico como articulador do cuidado e defensor da equidade terapêutica.
Quais são as perspectivas futuras para os ADCs na oncologia brasileira?
O êxito do trastuzumabe entansina abriu caminho para uma nova geração de ADCs com avanços significativos em engenharia molecular. Hoje, o cenário oncológico conta com moléculas como o trastuzumabe deruxtecana e o sacituzumabe govitecana, que utilizam linkers cliváveis e payloads inovadores, permitindo ação em tumores com menor expressão de antígenos. A tendência é que essas terapias avancem para linhas mais precoces e novas indicações, ampliando o benefício clínico. No Brasil, espera-se maior integração entre ANVISA, CONITEC e ANS para reduzir o tempo entre aprovação e disponibilização, fortalecendo o conceito de acesso equitativo à inovação. Cada vez mais, percebe-se que domínio sobre farmacoeconomia, indicadores de desempenho e dados de mundo real será fundamental para sustentar decisões clínicas e institucionais. Dessa forma, o conhecimento aprofundado sobre ADCs consolida o farmacêutico como protagonista na transição entre ciência e prática assistencial na oncologia contemporânea.
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