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O que é ctDNA e por que sua detecção revolucionou o entendimento da biologia tumoral?

Reprodução: Ayass Bioscience
Reprodução: Ayass Bioscience

O DNA tumoral circulante (ctDNA) é o fragmento de DNA derivado de células tumorais que circula livre no plasma; sua detecção combina alta sensibilidade analítica (sequenciamento direcionado, assays tumor-informed e abordagens de whole-genome/exome ultrassensíveis) com grande especificidade biológica, permitindo inferir carga tumoral, assinaturas mutacionais e dinâmica temporal da doença. Do ponto de vista molecular, ctDNA carrega variantes somáticas (SNVs, indels), alterações de copy-number e, em abordagens mais sofisticadas, assinaturas de rearranjos cromossômicos e metilação, oferecendo um retrato não invasivo da heterogeneidade espacial e temporal do tumor. Analiticamente, a escolha entre abordagens tumor-informed e tumor-agnóstico determina sensibilidade para Doença Residual Mínima (MRD) versus aplicabilidade ampla; a integração de UMI (unique molecular identifiers) e bioinformática robusta reduz falsos positivos derivados de CHIP (clonal hematopoiesis) e ruído técnico. Revisões recentes sintetizam que a validade analítica já é estabelecida para múltiplas plataformas, mas a utilidade clínica depende do contexto, rastreamento, monitorização de resposta, detecção precoce de progressão e MRD apresentam níveis diferentes de evidência.


Como o ctDNA melhora a avaliação de doença residual mínima no câncer colorretal e quais são as implicações adjuvantes?


Em câncer colorretal ressecado, a presença de ctDNA pós-operatório é um preditor altamente robusto de recidiva: pacientes com ctDNA detectável após cirurgia têm risco de recidiva substancialmente maior do que aqueles sem ctDNA detectável, o biomarcador antecipa recidiva clínica por meses e, em vários estudos, superou fatores clinicopatológicos tradicionais. Ensaios randomizados e estudos prospectivos (incluindo resultados recentes de estudos DYNAMIC e extensões subsequentes) têm mostrado que estratégias guiadas por ctDNA podem estratificar pacientes para quimioterapia adjuvante, potencialmente evitando tratamento desnecessário em pacientes ctDNA-negativos e escalando tratamento quando ctDNA persiste. A tradução clínica exige padronização temporal (quando colher; por exemplo, 4–8 semanas pós-operatório e em seguimento serial), definição de limites analíticos e manejo de resultados falsos positivos transitório. Entretanto, a utilidade prognóstica para orientar decisões adjuvantes no CC já tem forte evidência de benefício prognóstico.



De que forma o ctDNA está transformando o acompanhamento e a decisão terapêutica no câncer de mama?


No câncer de mama, ctDNA tem aplicações que vão do monitoramento de resposta em doença metastática ao rastreio de MRD em doença precursora/estadiada: Câncer de Mama Metastático BC HR+/HER2−, a análise serial de ctDNA permite detectar emergências mutacionais (p.ex., ESR1, PIK3CA) associadas a resistência endócrina e guiar trocas terapêuticas precoces; estudos demonstraram correlação entre aumento de ctDNA e progressão radiológica subsequente. Em doença precoce, abordagens tumor-informed demonstraram capacidade preditiva de recidiva antes da imagem, abrindo caminho para intervenções adjuvantes dirigidas por ctDNA. Ainda que os benefícios clínicos diretos (melhora em sobrevida global) dependam de provas de intervenção que modifiquem o curso após detecção de ctDNA, a utilidade para estratificação de risco, seleção para ensaios e direcionamento de terapias alvo (p.ex., inibidores de PI3K em tumores com PIK3CA detectável) já é prática crescente em centros de referência.


O que o ctDNA revela sobre mecanismos de resistência após 18 meses de terapia com inibidores de CDK4/6?


Estudos de análise longitudinal de ctDNA em pacientes tratados com inibidores de CDK4/6 mostram que, ao longo do tempo (incluindo janelas em torno de 12–24 meses), surgem subclones com alterações genômicas que associam-se à progressão: mutações em ESR1 e PIK3CA (fenótipos de escape endócrino), alterações em RB1 (perda de função) e amplificações/alterações em trajetórias de sinalização como FGFR1 e alterações em vias de reparo de DNA. Dados do PALOMA e análises posteriores revelaram detecção de mutações adquiridas em ctDNA em pacientes expostos a palbociclibe; algumas alterações (p.ex., RB1 LOF) aparecem relacionadas ao uso do CDK4/6 e podem emergir após períodos de resposta prolongada (por exemplo, ~18 meses), servindo como sinal de seleção clonal induzida pela pressão terapêutica. A interpretação clínica exige diferenciar mutações subclonais transitórias de eventos estabelecidos que demandam mudança de estratégia; entretanto, ctDNA oferece um mapa dinâmico que permite racionalizar (por amostragem líquida) a transição para terapias dirigidas subsequentes (por exemplo, seletor de ESR1 para fulvestranto/PI3K-pathway inhibitors).


Como os perfis mutacionais detectados por ctDNA orientam escolhas entre inibidores de tirosina quinase e terapias subsequentes?


A seleção entre inibidores de CDK4/6 raramente é ditada apenas por um marcador genômico preexistente, mas o perfil evolutivo detectado no ctDNA pode direcionar terapias subsequentes: por exemplo, a emergência de mutações ESR1 sugere falha da dependência estrogênica que pode justificar mudança de estratégia endócrina (fulvestranto, inibidores de SERD), enquanto alterações em PIK3CA podem indicar benefício de inibidores de PI3K quando apropriado clinicamente. A identificação de perda de RB1 por ctDNA após exposição prolongada a CDK4/6 aponta para resistência intrínseca à classe e pode justificar a retirada da dependência da via ciclina D–CDK4/6, movendo-se para quimioterapia ou agentes dirigidos alternativos; já alterações em FGFR1 ou ativação de vias de sinalização paralelas poderiam favorecer ensaios clínicos com alvo específico. Fundamental é que ctDNA funcione como gatilho para avaliação genômica confirmatória (quando possível em tecido) e para inclusão em estratégias personalizadas, ensaios e combinatórias racionais.


Em que contexto ctDNA pode antecipar a progressão radiológica e otimizar a sequência terapêutica no Câncer de Mama Metastático HR+/HER2−?


Análises temporais mostram que flutuações de ctDNA frequentemente precedem alterações imagiológicas detectáveis, em alguns estudos a detecção de aumento de ctDNA antecipou a progressão por meses. Isso permite duas janelas de intervenção: (1) intervir precocemente mudando o tratamento ao primeiro sinal de seleção clonal agressiva (porém com risco de sobretratar mutações transitórias), ou (2) confirmar e observar com amostragens seriadas para distinguir tendência persistente de ruído. A decisão deve balancear o histórico clínico, cinética do ctDNA (persistente versus isolado), perfil mutacional emergente e opções terapêuticas disponíveis (p.ex., inibidores de PI3K, alvos contra ESR1, quimioterapia). Ensaios que usam ctDNA como gatilho para troca terapêutica ainda estão em evolução; entretanto, ctDNA já é uma ferramenta poderosa para priorizar exames complementares, acelerar inclusão em ensaios e para discussões multidisciplinares sobre sequência terapêutica.



Quais são as limitações técnicas, biológicas e éticas do uso de ctDNA na prática clínica avançada?


Tecnicamente, limites de detecção, variabilidade entre plataformas, interferência de CHIP e falta de padronização entre laboratórios ainda geram incerteza; biologicamente, tumores com baixa liberação de DNA (ex.: alguns tumores mucinosos ou com barreira estromal densa) podem produzir ctDNA abaixo do limite analítico, resultando falsos negativos. Interpretação clínica exige contexto temporal e radiológico: ctDNA isolado sem correlação clínica pode levar a mudanças prematuras de tratamento. Do ponto de vista ético e de saúde pública, a implementação ampla pode exacerbar desigualdades (acesso a assays caros, infraestrutura de sequenciamento), demandando políticas para garantir validação clínica e equidade; além disso, a comunicação ao paciente sobre detecção precoce de MRD exige cuidado, o conhecimento de risco aumentado de recidiva sem intervenção comprovada pode gerar ansiedade e decisões precipitadas. Por fim, a integração de ctDNA em guidelines e fluxos clínicos continuará se consolidando à medida que ensaios randomizados demonstrarem benefício em desfechos duros.



Como traduzir a informação de ctDNA em decisões concretas de tratamento: uma estratégia prática para equipes multidisciplinares?


Uma estratégia prática parte por (1) definir o objetivo do teste (MRD pós-op, monitorização de resposta, rastreio de resistência), (2) escolher a plataforma adequada (tumor-informed para MRD; painéis mais amplos para mutações acionáveis no Câncer de Mama Metastático), (3) estabelecer janelas temporais de coleta (p.ex., baseline tumoral, 4–8 semanas pós-op, amostragens seriadas a cada 8–12 semanas no Câncer de Mama Metastático), (4) padronizar interpretação (limites de significância, fluxo para confirmar CHIP e validação em tecido quando viável) e (5) prever ações predefinidas (ex.: ctDNA persistente pós-op → escalonamento adjuvante; emergência de ESR1/PIK3CA após CDK4/6 → reavaliação de terapia endócrina e consideração de inibidor PI3K ou SERD). Essencialmente, ctDNA é um instrumento dinâmico: não dita receita única, mas fornece evidência molecular em tempo real que deve ser integrada a dados clínicos, imagem e preferências do paciente para decisões personalizadas.



Qual é o futuro do ctDNA na oncologia e por que ele redefine o conceito de vigilância molecular personalizada?


O futuro do ctDNA está intrinsecamente ligado à consolidação da oncologia de precisão em tempo real. À medida que a sensibilidade dos métodos de detecção aumenta e o custo do sequenciamento decresce, o ctDNA tende a migrar do status de ferramenta translacional para biomarcador clínico central, integrando-se a algoritmos de decisão terapêutica. Nos próximos anos, a tendência é que a interpretação de ctDNA seja acompanhada por análises integrativas de metilação, fragmentômica e transcriptômica líquida, ampliando o poder preditivo além das mutações. No câncer de mama e no colorretal, a incorporação dessa ferramenta permitirá antecipar resistência, identificar recaídas ocultas e ajustar intervenções antes da progressão clínica, modulando intensidade terapêutica e otimizando sobrevida com menor toxicidade cumulativa. Ensaios como BESPOKE, TRACERx e c-TRAK-TN já delineiam uma nova era em que o sangue se torna uma “biópsia dinâmica” do comportamento tumoral. A evolução desse campo, no entanto, exigirá validação contínua, interoperabilidade de dados e integração em sistemas de saúde capazes de responder à informação molecular em tempo hábil. Em última instância, ctDNA redefine o paradigma da vigilância oncológica, de uma abordagem reativa baseada em imagem, para uma estratégia proativa e molecularmente informada, onde cada fragmento de DNA circulante conta uma história de resistência, resposta e possibilidade terapêutica.





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