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O "match" perfeito: doação de medula óssea e uma nova esperança de vida

Reprodução: ABRASTA
Reprodução: ABRASTA

Sabe aquele "match" (combinação) perfeito?! A medula ócssea é um tecido hematopoiético encontrado no interior dos ossos, responsável pela produção das células sanguíneas que sustentam a vida: hemácias, leucócitos e plaquetas. Em diversos cenários oncológicos, como leucemias agudas e crônicas, linfomas agressivos, mielomas múltiplos e síndromes mielodisplásicas, a função da medula encontra-se severamente prejudicada, comprometendo tanto a defesa imunológica quanto a oxigenação tecidual e o equilíbrio hemostático. O transplante de medula óssea ou, mais precisamente, transplante de células-tronco hematopoéticas (TCTH) surge como recurso terapêutico de caráter potencialmente curativo. Nesse procedimento, células progenitoras saudáveis substituem a medula doente, permitindo a reconstituição funcional do sistema hematopoiético. A importância da doação é dupla: além de representar uma intervenção de alta complexidade biomédica, ela simboliza a única alternativa de sobrevida para muitos pacientes refratários às linhas convencionais de tratamento quimioterápico ou imunoterápico. A relevância é ainda maior ao considerar que a compatibilidade genética é extremamente rara fora do núcleo familiar, tornando os registros de doadores uma rede indispensável.


Como funciona o processo de cadastro no REDOME e qual sua abrangência internacional?


O Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME), administrado pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), é o principal banco de dados brasileiro que conecta doadores voluntários a pacientes em busca de compatibilidade. O cadastro inicia-se de forma simples, em hemocentros credenciados, com preenchimento de dados pessoais e coleta de uma amostra de sangue periférico para análise do sistema de antígenos leucocitários humanos (HLA).

Essa tipagem é fundamental para avaliar a compatibilidade imunogenética entre doador e receptor, pois diferenças mínimas nesse sistema podem levar à rejeição do transplante ou ao desenvolvimento da doença do enxerto contra o hospedeiro (GVHD).

Após o cadastro, os dados do voluntário são inseridos em uma base que integra sistemas internacionais de registros, ampliando significativamente as chances de identificação de pares compatíveis em escala global. É importante frisar que o cadastro não implica em doação imediata, mas em disponibilidade de longo prazo, com possibilidade de convocação anos depois do registro. Esse modelo torna o REDOME um instrumento estratégico de saúde pública e uma plataforma de cooperação internacional em oncologia.



Quais são os critérios clínicos para se tornar um doador de medula óssea?


O processo de seleção de doadores envolve critérios rigorosos para garantir a segurança do voluntário e a viabilidade do transplante. A faixa etária ideal é entre 18 e 35 anos, período em que as células-tronco apresentam maior capacidade proliferativa e menor risco de mutações somáticas acumuladas. Contudo, indivíduos até 60 anos podem ser aceitos, desde que em perfeitas condições de saúde. Entre os principais fatores de exclusão estão doenças autoimunes, neoplasias prévias, doenças hematológicas, infecções crônicas e condições clínicas descompensadas, como insuficiência cardíaca ou renal. Mulheres grávidas não podem doar durante a gestação, e portadores de infecções transmissíveis pelo sangue também são inelegíveis. A triagem clínica inclui histórico de saúde detalhado, exames laboratoriais e avaliação de risco anestésico, visto que o procedimento de coleta pode demandar anestesia geral ou raquidiana. O objetivo é minimizar qualquer risco para o doador, ao mesmo tempo em que se assegura que as células colhidas tenham o potencial necessário para enxertar e regenerar a medula óssea do paciente receptor.


De que forma é realizada a coleta das células-tronco hematopoéticas para doação?


Existem duas modalidades principais de coleta: a punção direta da medula óssea e a aférese de células-tronco hematopoéticas circulantes. Na primeira técnica, realizada em centro cirúrgico, sob anestesia geral ou peridural, múltiplas punções são feitas nos ossos da bacia, em especial na crista ilíaca posterior, para aspirar o material hematopoiético. O procedimento dura em média 90 minutos e o doador recebe alta no mesmo dia, podendo apresentar dor local ou fadiga leve nos dias subsequentes. Na segunda modalidade, mais utilizada atualmente, administra-se previamente ao doador um fator de crescimento hematopoiético (geralmente G-CSF), que mobiliza células-tronco da medula para a corrente sanguínea. Posteriormente, o sangue é coletado por aférese, separando-se as células desejadas e devolvendo os demais componentes ao doador. Esse processo dura de 4 a 6 horas, podendo necessitar de mais de uma sessão. Ambas as técnicas são seguras e não comprometem a saúde futura do voluntário, já que a medula óssea apresenta elevada capacidade de regeneração.


Quais são os riscos e benefícios do procedimento para o doador voluntário?


Embora a doação de medula óssea envolva procedimentos invasivos, trata-se de uma prática considerada segura, com complicações graves extremamente raras. No caso da coleta por punção, os riscos mais comuns incluem dor local, hematomas, anemia leve ou reações adversas à anestesia, todas geralmente reversíveis em curto prazo. Já na coleta por aférese, os efeitos adversos mais relatados estão relacionados ao uso de fatores estimuladores, como dores ósseas transitórias e cefaleia, além de hipocalcemia leve decorrente do anticoagulante utilizado durante o processo. É fundamental ressaltar que o corpo humano recompõe rapidamente as células doadas, não havendo risco de déficit permanente. Do ponto de vista psicológico, o benefício é imensurável: o ato de doar traduz-se em um gesto altruísta com impacto direto na chance de cura de pacientes com doenças potencialmente fatais. Estudos mostram que a maioria dos doadores descreve a experiência como altamente gratificante, reforçando a perspectiva de solidariedade como elemento indissociável do processo de cuidado em oncologia.



Por que a compatibilidade HLA é tão difícil de ser encontrada?


A compatibilidade entre doador e receptor depende do sistema HLA (Human Leukocyte Antigen), que apresenta altíssimo polimorfismo genético. Isso significa que a chance de encontrar uma combinação adequada fora do núcleo familiar é extremamente baixa, girando em torno de 1 para 100 mil, podendo ser ainda menor em determinadas populações com menor representatividade nos registros. Tal complexidade explica a necessidade de ampliar continuamente o número de voluntários cadastrados, especialmente em países como o Brasil, cuja diversidade étnica confere desafios adicionais à compatibilidade. Apenas 25% dos pacientes encontram um doador compatível entre irmãos, sendo que a maioria depende exclusivamente do REDOME e de bancos internacionais. A ampliação do cadastro é, portanto, um fator estratégico para reduzir desigualdades em saúde, aumentando a equidade no acesso ao transplante.

Compreender essas barreiras genéticas auxilia na comunicação com pacientes e familiares sobre as razões do tempo prolongado para a busca de um doador.

Confira mais sobre o que o professor Jonas Fernandes, que integra o time de professores da nossa Pós Graduação de Farmácia em Oncologia, tem a dizer sobre o transplante de medula óssea:



Qual é o impacto da doação de medula óssea para pacientes oncológicos?


Para o paciente com câncer hematológico, receber um transplante de medula óssea compatível pode significar a diferença entre a falência terapêutica e a possibilidade de cura. O procedimento não apenas substitui a medula doente, mas também permite que a imunidade seja reconstituída de forma eficaz, conferindo maior resistência a infecções e menor dependência transfusional. Em casos de leucemia, o transplante pode eliminar células malignas residuais por meio do efeito enxerto contra leucemia (GVL), um mecanismo imunológico em que as células do doador atacam seletivamente células neoplásicas do receptor. Entretanto, o benefício clínico só se concretiza com a existência de um doador compatível, reforçando a importância dos registros voluntários. Em termos de saúde pública, o aumento da taxa de transplantes bem-sucedidos reduz custos associados a internações prolongadas, infecções recorrentes e terapias paliativas, fortalecendo o impacto da doação não apenas no âmbito individual, mas também no coletivo.


Como você pode se cadastrar e contribuir para salvar vidas?


O processo de cadastro como doador de medula óssea no Brasil é acessível e gratuito. Basta procurar o hemocentro mais próximo, disponível em praticamente todos os estados, e manifestar interesse em integrar o REDOME. Após a coleta do sangue e o registro dos dados, o voluntário permanece em banco até os 60 anos de idade, podendo ser chamado caso seja identificado um receptor compatível. As informações oficiais sobre o processo, bem como a lista de hemocentros credenciados, estão disponíveis no portal do INCA e no site do REDOME (https://redome.inca.gov.br/).


A decisão de doar deve ser consciente e informada, pois envolve compromisso com o paciente que aguarda pelo transplante. O gesto, entretanto, é de profundo alcance: um único doador pode ser a chave para restaurar a esperança de um paciente oncológico e sua família. Nesse contexto, a conscientização e a disseminação de informações precisas são instrumentos indispensáveis para expandir o número de voluntários e, consequentemente, as possibilidades terapêuticas em oncologia.
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