Vamos entender: como a genotipagem orienta a escolha terapêutica no câncer metastático?
- Propósito Cursos e Pós-graduação
- 20 de ago.
- 4 min de leitura
Atualizado: 21 de ago.

Por que a medicina de precisão representa uma mudança de paradigma na oncologia?
A oncologia moderna deixou de ser guiada apenas por características morfológicas e histológicas para abraçar uma visão centrada na biologia molecular. Essa transição é resultado da compreensão de que dois tumores com a mesma histologia podem responder de forma completamente diferente a um mesmo tratamento, dependendo de suas alterações genômicas e microambientais. Assim, a medicina de precisão não apenas aumenta a taxa de resposta, mas também reduz a exposição a abordagens desnecessárias Em tumores metastáticos, por exemplo, esse avanço é ainda mais evidente, pois a seleção de pacientes com base em biomarcadores específicos pode prolongar a sobrevida global em cenários que antes eram de prognóstico extremamente limitado. No entanto, esse modelo exige uma reestruturação do cuidado oncológico, uma vez que decisões clínicas passam a depender diretamente da incorporação de testes moleculares, integração de dados em tempo real e maior articulação entre diagnóstico, pesquisa e assistência. No Brasil, o sistema de saúde, seja ele pensado nos serviços públicos ou privados, ainda engatinham nessa resolução.
Como a genotipagem orienta a escolha terapêutica no câncer metastático?
No câncer metastático, a genotipagem se tornou um elemento indispensável para decisões terapêuticas de alta complexidade. O exemplo mais emblemático é o carcinoma de pulmão de não pequenas células, em que mutações em EGFR, ALK, ROS1, BRAF ou MET definem se o paciente terá acesso a terapias-alvo que modificam substancialmente a sobrevida. Da mesma forma, no câncer colorretal metastático, a presença de mutações em RAS impede o uso de terapias anti-EGFR, enquanto a detecção de instabilidade de microssatélites direciona para imunoterapia. A genotipagem não se limita a um diagnóstico pontual: ela acompanha a evolução tumoral, já que a resistência adquirida pode emergir após o uso prolongado de uma droga-alvo. Isso demanda novas biopsias ou biópsias líquidas, ampliando o escopo de avaliação molecular ao longo do tratamento. Dessa forma, o farmacêutico oncológico precisa estar preparado para reconhecer a relevância clínica de cada biomarcador e as respectivas escolhas terapêuticas
Como a genotipagem se relaciona com a inovação terapêutica?
Os medicamentos first-in-class inauguram mecanismos de ação inéditos, capazes de alterar a história natural de doenças até então sem opções terapêuticas eficazes. Ao contrário dos me too drugs, que replicam estratégias já estabelecidas, esses agentes introduzem novas vias de sinalização ou estratégias imunológicas que redefinem a prática clínica. Isso pode ser observado em terapias celulares, inibidores epigenéticos e anticorpos biespecíficos, cujos efeitos adversos nem sempre são previsíveis com base na farmacologia clássica. O impacto vai além do paciente: as instituições precisam rever fluxos de incorporação tecnológica, pois esses fármacos frequentemente exigem infraestrutura diagnóstica complementar, protocolos de segurança específicos e investimentos em capacitação da equipe multiprofissional. Assim, o farmacêutico oncológico não apenas acompanha o surgimento dessas inovações, mas também atua como elo entre a ciência translacional e a rotina assistencial, garantindo que a aplicação clínica esteja alinhada com a evidência científica e com a segurança do paciente.
Vamos de exemplo: tebentafuspe no cenário do melanoma uveal metastático
O tebentafuspe, registrado em 2025 no Brasil, é indicado para o tratamento do melanoma uveal metastático. Trata-se de um fármaco first-in-class para essa neoplasia rara, caracterizada por alta letalidade diante da sua recorrência metastática e limitada resposta a terapias convencionais. Seu mecanismo inovador consiste em utilizar um receptor de célula T biespecífico que reconhece o antígeno gp100, restrito a pacientes portadores do alelo HLA-A*02:01. Ao redirecionar linfócitos T contra as células tumorais, o tebentafusp proporciona um aumento significativo na sobrevida global, algo inédito nessa população. Essa inovação não apenas cria novas perspectivas terapêuticas, mas também evidencia a complexidade de implementar tratamentos que dependem de biomarcadores imunogenéticos.
Para serem tratados com tebentafuspe, os pacientes têm de ter um genótipo HLA-A*02:01 determinado por qualquer ensaio de genotipagem de HLA validado.
A exigência da tipagem de HLA para uso do tebentafuspe ilustra como a oncologia de precisão vai além da análise de mutações tumorais. A presença do alelo HLA-A*02:01 é determinante para a eficácia do medicamento, o que restringe seu uso a um subgrupo de pacientes e levanta desafios sobre equidade no acesso. Em termos práticos, essa abordagem transforma o biomarcador em uma espécie de “senha de acesso” ao tratamento.
Quais os principais desafios de segurança associados às terapias mais especializadas?
Apesar de seu potencial terapêutico, as terapias de precisão apresentam um perfil de segurança complexo e ainda em construção. O tebentafuspe, por exemplo, está associado a eventos adversos graves, como síndrome de liberação de citocinas, hepatotoxicidade e reações cutâneas intensas, exigindo protocolos específicos de monitoramento. Diferentemente da quimioterapia convencional, em que os efeitos são geralmente dose-dependentes e previsíveis, os eventos das terapias imunológicas podem surgir de forma abrupta e com gravidade variável. Isso demanda que a equipe clínica esteja treinada para reconhecer sinais precoces e instituir intervenções imediatas, evitando a interrupção definitiva do tratamento.
Como a evolução das terapias de precisão impactará o futuro da oncologia?
A introdução desss terapias não é apenas um avanço pontual: é a abertura de uma nova era em que a oncologia será cada vez mais personalizada e segmentada. Cada inovação desse tipo não apenas oferece uma opção terapêutica, mas também gera a necessidade de novos exames diagnósticos, adaptações nos protocolos de farmacovigilância e atualização contínua das diretrizes clínicas. No futuro, é provável que pacientes sejam estratificados com base em assinaturas moleculares e imunológicas extremamente específicas, o que ampliará a complexidade da gestão clínica. Para acompanhar essa evolução, será imprescindível contar com farmacêuticos oncológicos preparados para atuar na fronteira entre ciência básica, desenvolvimento clínico e prática assistencial. Assim, o futuro da oncologia dependerá não apenas da descoberta de novos fármacos, mas também da capacidade das equipes de saúde de traduzir essa inovação em benefícios concretos e sustentáveis para os pacientes.
Referências
Nathan P, Hassel JC, Rutkowski P, et al. Overall survival benefit with tebentafusp in metastatic uveal melanoma. N Engl J Med. 2021;385(13):1196–1206. doi:10.1056/NEJMoa2103485
Immunocore. Tebentafusp granted Breakthrough Therapy, Fast Track and orphan drug designation by FDA. Immunocore Press Release. 2022.
Killock D. Tebentafusp for uveal melanoma. Nat Rev Clin Oncol. 2021;18:747. doi:10.1038/s41571-021-00572-3
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