Como o cuidado integrado com a Nutrição melhora a resposta aos tratamentos oncológicos?
- Propósito Cursos e Pós-graduação
- 28 de jul.
- 4 min de leitura
Atualizado: 29 de jul.

A terapia nutricional é parte essencial da assistência multidisciplinar em oncologia e tem influência direta na eficácia dos tratamentos antineoplásicos. Discussões recentes (ESPEN 2023) apontam que até 80% dos pacientes oncológicos apresentam desnutrição ou caquexia durante o tratamento, fenômeno que altera o metabolismo energético e compromete a performance durante o tratamento. Essa condição aumenta significativamente o risco de eventos adversos hematológicas, gastrointestinais e infecciosas, podendo levar à redução de doses ou interrupção precoce dos esquemas terapêuticos. A abordagem precoce, incluindo suplementação personalizada e suporte enteral ou parenteral, mostrou-se capaz de melhorar a sobrevida global e a resposta tumoral em estudos multicêntricos recentes, reforçando que a nutrição não é um cuidado adjacente, mas um determinante clínico do sucesso terapêutico.
Por que o farmacêutico oncológico deve compreender as vias de administração nutricional?
Considerando que cada via de administração de medicamentos possui implicações farmacocinéticas que podem alterar significativamente a eficácia e segurança dos antineoplásicos, Pacientes em nutrição parenteral, especialmente em uso prolongado, podem apresentar alterações na distribuição e metabolismo de medicamentos, particularmente aqueles metabolizados pelo fígado ou altamente lipofílicos, devido à presença de emulsões lipídicas e ao risco aumentado de disfunção hepática. Isso exige monitoramento específico para fármacos com metabolismo hepático relevante, como irinotecano, certos agentes alquilantes e outros quimioterápicos hepatotóxicos. Em contraponto, a nutrição enteral pode ser comprometida por mucosite oral, disfagia ou obstruções intestinais, condições frequentemente associadas ao uso de agentes citotóxicos e radioterapia de cabeça e pescoço. O farmacêutico, ao compreender esses mecanismos, pode colaborar junto à Nutrição especializada para proporcionar alternativas que alinhem a busca por resultados clínicos e a qualidade de vida do paciente.
Quais são as recomendações nutricionais críticas para reduzir eventos adversos dos antineoplásicos?
As diretrizes mais recentes (SBNO 2021; ESPEN 2023) destacam que há um gasto estimado entre 25–35 kcal/kg/dia, e que a suplementação proteica pode atingir até 2,5 g/kg/dia em pacientes sob alto estresse metabólico, são fundamentais para preservar a massa muscular e evitar complicações graves. A perda de massa magra, comum em pacientes com tumores avançados, está diretamente associada a maior risco de neutropenia, náuseas refratárias e toxicidade hematológica durante regimes com platinas e taxanos. A intervenção nutricional precoce, quando integrada à farmacoterapia, reduz a incidência de eventos adversos e previne a síndrome de realimentação, uma complicação potencialmente fatal quando a reposição calórica é feita de forma inadequada.
Confira abaixo as informações relevantes que Luana Milen Varjão, professora da pós-graduação de Farmácia Oncológica, tem a dizer sobre isso!
De que maneira o estado nutricional do paciente oncológico interfere na resposta terapêutica?
A estado nutricional é capaz de modificar parâmetros fisiológicos que afetam diretamente a resposta ao tratamento e a segurança do tratamento oncológico. A hipoalbuminemia, frequente em pacientes desnutridos, aumenta a fração livre de fármacos altamente ligados a proteínas plasmáticas, como paclitaxel e docetaxel, potencializando efeitos mielossupressores. Além disso, deficiências em micronutrientes, incluindo zinco, selênio e vitaminas do complexo B, prejudicam mecanismos de reparo do DNA, aumentando a suscetibilidade a eventos adversos e reduzindo a eficácia de agentes alquilantes. Alterações na microbiota intestinal, consequência de dietas inadequadas ou antibioticoterapia, podem ainda modificar a ativação de pró-fármacos e a toxicidade de agentes imunomoduladores. Ao incorporar avaliações nutricionais na prática institucional, leva à otimização da resposta terapêutica e tende a reduzir a ocorrência de eventos adversos graves, que podem levar à hospitalização.
Em relação aos cuidados de fim de vida, qual é a abordagem nutricional adequada para esses pacientes oncológicos?
A conduta nutricional no contexto de cuidados paliativos oncológicos deve priorizar conforto, qualidade de vida e respeito à individualidade do paciente, diferindo substancialmente da abordagem focada em tratamento curativo. Em estágios avançados da doença, a inflamação sistêmica, a anorexia e a caquexia tumoral reduzem a resposta a intervenções nutricionais agressivas, tornando necessária uma estratégia mais humanizada e menos invasiva. Publicações recentes reforçam que a nutrição deve ser guiada pela tolerância, desejos alimentares e sintomas, não apenas por metas calóricas ou proteicas. O farmacêutico oncológico, ao integrar a equipe multidisciplinar, participa ativamente dessa tomada de decisão, ajustando medicamentos que afetam o apetite, a motilidade gastrointestinal e o conforto digestivo. A via oral, quando possível, deve ser privilegiada, utilizando dietas de fácil deglutição, preparações de alta densidade calórica e suplementos modulados conforme aceitação.
A nutrição enteral ou parenteral pode ser considerada em situações específicas, desde que não prolongue o sofrimento ou cause complicações adicionais. O objetivo maior é reduzir sintomas como náuseas, disfagia, xerostomia e mucosite, preservando prazer alimentar e dignidade até a fase final da vida. Estudos recentes destacam que a comunicação clara entre equipe, paciente e familiares é essencial para alinhar expectativas e evitar intervenções fúteis. Nessa etapa, a conduta nutricional torna-se um instrumento de cuidado compassivo, alinhado aos princípios da medicina paliativa, onde cada decisão deve equilibrar benefícios clínicos, carga emocional e impacto no bem-estar do paciente. Referências
Arends J, Baracos V, Bertz H, Bozzetti F, Calder PC, Deutz NEP, et al. ESPEN practical guideline: Clinical Nutrition in cancer. Clin Nutr. 2023;42(5):2657–88. PubMed
Sociedade Brasileira de Nutrição Oncológica (SBNO). I Consenso Brasileiro de Nutrição Oncológica. Rio de Janeiro: SBNO; 2021. Disponível em: https://www.sbno.org.br.
BRASPEN. Diretriz de Terapia Nutricional no Paciente com Câncer. BRASPEN J. 2023;39(Supl 1):1–45.
Chasen M, Mazurak V, Kubrak C, Schink A, Isenring E. Attitudes of oncology professionals about nutritional support for patients with cancer: A multinational survey. Eur J Surg Oncol. 2023;49(6):1240–7. doi: 10.1016/j.ejso.2023.107074.
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